Manuel Nunes nasceu em janeiro de 1935, em Calçadas, Tomar. Dois meses depois, nascia o jornal “Cidade Tomar”. Meninos e moços, ele foi crescendo, dia a dia, o jornal sendo editado, semana a semana. Os anos galgaram, ficaram as memórias de como se vivia e era a cidade nesta década de 30/40 do século passado (1930/1940), tempos que Manuel Nunes teve a cortesia de repartir com este jornal, em conversa franca e fluente, descrevendo essas recordações com a clareza que a lucidez o tem privilegiado.
Os olhos brilham-lhe da bem portuguesa saudade quanto fala da então fonte de S. André, que foi decomposta para ali ser instalada a rotunda do Bonjardim. Em criança, subia os degraus da fonte e saciava-se, boca no fio de água jorrando da torneira, tão fresca e cristalina quanto a madre natureza facultava. Dada a sua vistosa arquitetura, a fonte foi remontada em Carrazede e ainda lá pode ser apreciada.
Recorda o ribeiro das “Canas”, vinha das traseiras da agora sede da PSP, passava em frente da agora Gualdim Pais e pelas traseiras da Igreja Santa Maria do Olival. Os tempos e as obras fizeram desaparecer o ribeiro.
Filho de pai trabalhador do campo, mãe doméstica, ingressou na 1ª classe da Escola da Ensino Básico dos “Graças”, então a funcionar na esquina da agora rua da Cascalheira. Eram trinta alunos, todos descalços, vestidos com as roupas que as mães ajeitavam. Tempos de grande escassez, quando chegava a casa e a comida constava de migas de pão de milho cozidas ao lume, numa panela de esmalte com fundo em chapa. A farinha provinha de um moinho então a jusante do agora barragem do Carril. Ainda lá se podem ver os escombros do moinho. As mães coziam o pão.
Entrevista: Mário Cobra