TomarLugar, da RCT, recebeu, no passado dia 6 de março, o tomarense Bruno Cardoso Reis, comunicador, investigador, professor de História e Relações Internacionais no ISCTE-IUL, onde dirige o Doutoramento em História e Defesa, para uma conversa sobre atualidade internacional, nacional e sobre Tomar, terra que o viu nascer.
RCT – Bruno, quem é a pessoa que sente ser, digamos, o Bruno de hoje, é claro, do resultado do ontem?
Bruno Cardoso Reis – Em termos profissionais, sou um professor da universidade e realmente gosto bastante de dar aulas, é algo que eu acho que é uma interação em que aprendemos também muito, com sucessivos alunos que vamos tendo, nos vários graus obviamente, sobretudo por exemplo ao nível de Doutoramento, que é realmente uma área em que eu também trabalho bastante. Portanto, em primeiro lugar, realmente, professor, depois, obviamente, também me sinto tomarense, ou seja, como eu disse, sempre que posso, regresso aqui a Tomar. Por razões de trabalho, eu vivo e trabalho, essencialmente em Lisboa, mas realmente procuro vir com frequência cá, portanto também me identifico nessa dimensão. É uma cidade pela qual obviamente tenho muito carinho e continuo a acompanhar também com o interesse o que por cá se passa, portanto, essas duas dimensões são certamente fundamentais, além das outras, além de pai, marido, filho…
– Voltando um bocadinho ao Bruno, quase do tempo dos calções. Como é que passou a sua juventude?
– Eu vivi até aos 10 anos numa aldeia que é a Portela, que fica entre Tomar e a Barragem do Castelo de Bode, mais ou menos a meio caminho, na freguesia de São Pedro. Por um lado, vivi esse lado, digamos, rural, embora eu estivesse sempre aqui, mesmo no Jardim Escola, mas realmente vivia lá. Portanto, aí era um ambiente mais rural. E guardo ótimas recordações, embora fosse o Portugal rural do final dos anos 70 e início dos anos 80, em que, por exemplo, não havia ainda água canalizada, nem esses luxos de agora, em que muitas vezes a luz faltava, mas tenho ótimas recordações, tinha um bom grupo de amigos, andávamos de bicicleta por todo o lado, lá pela aldeia e arredores, lembro-me de andarmos, por exemplo, a explorar ali aquelas enormes canalizações para levar água da albufeira para Lisboa. Mas, efetivamente, vinha todos os dias para Tomar, o meu pai também trabalhava aqui na Mendes Godinho e, portanto, vinha todos os dias e guardo uma ótima recordação de uma cidade onde era muito aprazível viver e nesse aspeto continua a ser assim. Eu gosto muito de passear a pé e Tomar é uma cidade onde isso é muito fácil de acontecer, com uma zona histórica também que foi sempre relativamente preservada e que se mantém. Tenho ótimas recordações de viver em Tomar, crescer, num contexto que, por exemplo, comparando com a vida de hoje, em Lisboa, da minha filha, era muito menos condicionado, toda a gente se conhecia um pouco, era fácil ir a qualquer lado. Eu, por exemplo, ia muitas vezes almoçar ao “Noite e Sol”, mesmo que o meu pai não estivesse lá, fazia quase a vez de cantina, toda a gente já me conhecia, sabia que era para servir o almoço e depois logo se pagava. Era realmente um sítio muito acolhedor e onde era muito aprazível viver e guardo ótimas recordações.

– E das atividades que, entretanto, já fazia, digamos já se notava uma certa apetência para a carreira que acabou por seguir, para a questão da História?
– Eu, durante um tempo, tinha duas atividades principais além da escola, que era o escutismo, por um lado, e por outro, a música no Conservatório. E, portanto, por aí, se calhar nem tanto assim, mas realmente também guardo boas recordações das duas, acho que, por exemplo, os escuteiros são realmente uma boa escola em termos de algum desembaraço da pessoa, se habituar a viajar sem os pais, mesmo muito jovem, a orientar-se. É uma coisa que eu gosto muito de fazer, viajar e, realmente, acho que isso ficou-me também, ou essa experiência ajudou, no fundo. Também mantenho algum gosto pela música, que certamente foi do Conservatório, embora nunca tivesse nenhum especial jeito, nem ilusões a esse respeito, pelo menos nesse aspeto ajudou a esclarecer que músico não seria certamente, pelo menos profissional não seria certamente. (…)
Entrevista completa na edição impressa de 29 de março.