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Tomar

João Pinto da Costa: o artesão que vive a paixão pelo raku, por uma oficina ambulante e por criar instrumentos musicais em barro

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Ana Isabel Felício
Comecei a trabalhar no Jornal Cidade de Tomar em 1999. Já lá vão uns anitos. Depois de sair da Universidade e de todas as dúvidas e dificuldades que surgem, foi-se construindo um caminho de experiência, com muitas situações, muitas pessoas, muitas aventuras e, claro, muito trabalho. Ao fim de todos estes anos, apesar de todos os percalços que a vida nos vai dando, cá estou, todos os dias a fazer o meu trabalho o melhor que sei, aprendendo com os que me rodeiam e também ensinando alguma coisa.

O mestre artesão João Pinto da Costa esteve à conversa com Carlos Gonçalves, no programa Tomarlugar da Rádio Cidade de Tomar, onde falou sobre trabalhar o barro e a sua importância como produto económico. O artesão, o seu trajeto de vida, social e profissional, que hoje dedica uma parte muito significativa à formação sobre essa arte, atividade que irá iniciar este ano letivo, também junto das crianças do 1.º ciclo do concelho de Tomar, através das AEC’s.

– Pode dizer-se que o João é um artista da olaria/cerâmica?

Não gosto que me chamem artista, prefiro mestre, pelo gosto que tenho de ensinar e de inovar. Não me vejo como artista, mais como artesão. Aliás, eu fiz um retrocesso no esquema da cerâmica, fui às bases, gosto de criar a partir das formas tradicionais, até pré-históricas. A cerâmica nasce da necessidade de se fazerem utensílios domésticos. Durante muitos anos a cerâmica que se via era loiça utilitária. À medida que vão surgindo outras peças de alumínio e de plástico, a cerâmica foi sendo substituída, daí hoje se centrar mais em peças decorativas.

– Como é trabalhar e sentir o barro?

O barro em si é terapêutico, mexer na terra é terapêutico. A parte criativa é muito importante, antes havia oleiros que só faziam um tipo de peça. A cerâmica engloba tudo o que seja feito com argila e há várias técnicas, a técnica da bola (adelgaçamento), a técnica da lastra (placa de barro) e a técnica do rolo (rolinhos de barro). Depois há a técnica de modelação em volume, há os efeitos a criar, há a cozedura, cujo nome da primeira cozedura é a chacota, depois temos as peças vidradas ou pintadas, é todo um circuito até termos a peça final.

– Já há alguém lhe encomendou uma peça única?

Já me pediram peças exclusivas e, nesses casos, tento perceber a ideia, faço um esboço, falo com a pessoa para chegar a um consenso e depois ponho em prática.

– O que faz na sua oficina na Carregueira?

Tenho um forno artesanal e trabalho uma técnica de cerâmica que é o raku, nome que se dá a uma técnica que é japonesa. O raku que fazemos no ocidente não tem nada a ver com o raku oriental. O raku aparece no Japão no século XVI, quando se dá a união das tribos feudais e está ligado à cerimónia do chá do Japão, o que envolve os trajes e os utensílios de chá. No Japão, o raku é feito por meia dúzia de mestres, só alguns têm esse estatuto. É um processo completamente diferente dos processos normais da cerâmica. Depois da primeira cozedura das peças – a chacota – as peças são vidradas e vão novamente ao forno e depois são tiradas do forno em brasa e depois há dois processos possíveis, ou o da redução ou o da oxidação. (…)

Perfil

Nasceu em Lisboa, há 69 anos, viveu em caldas da Rainha e há cerca de vinte anos, vive em Carregueira, Tomar, onde tem uma oficina de arte e de paixão, uma oficina onde se dedica, principalmente, à arte do raku e outras técnicas de modelação.

Carlos Gonçalves

Uma entrevista para ler na íntegra na edição impressa de 13 de outubro.

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