Carlos Beato esteve ao lado de Salgueiro Maia na madrugada libertadora de 25 de Abril de 1974. O capitão Carlos Beato era o comandante do 6.º Pelotão da Operação “Fim do Regime”, que na madrugada do dia 25 de abril de 1974 saiu com Salgueiro Maia de Santarém em direção a Lisboa. Aos 26 anos, tinha 25 homens sob as suas ordens. O Jornal “Cidade de Tomar” falou com o Capitão de Abril sobre as suas memórias desse dia e a importância que o mesmo teve para o país.
– Quais as principais memórias que guarda da operação iniciada no dia 24 de abril de 1974?
Carlos Beato – Eu estava na Escola Prática de Cavalaria em Santarém como oficial miliciano e tinha acabado de regressar de uma missão militar de Moçambique, da Guerra Colonial. Na data, a PIDE andava sempre no controle, não podíamos falar à vontade e o Capitão Salgueiro Maia andava a questionar, um a um, os militares para saber se estavam disponíveis para integrar uma ação militar, a operação “Fim do Regime”, ao que todos responderam que sim. A principal memória que tenho dessa madrugada libertadora é que cerca de 200 jovens, voluntariamente, disseram sim ao grande Capitão Salgueiro Maia para participar na operação “Fim do Regime”.
– Dada as condicionantes da época, o Capitão Salgueiro Mais propôs-se questionar cada um dos militares para essa operação?
– O Capitão Salgueiro Maia foi uma figura incontornável na vida militar, um grande Comandante, um grande líder, foi alguém que nós tínhamos como exemplo e, por isso, todos responderam que sim para avançar com a operação militar que devolveria a Liberdade e a Democracia ao nosso povo. O Capitão Salgueiro Maia foi uma figura determinante em todos os acontecimentos naquele dia, naquela operação. Merecia comemorar os 50 anos de Abril, que ele ajudou a concretizar.
– Depois de todos terem aceite participar na operação, quais foram os próximos passos?
– No dia 24 de abril, de manhã, fomos informados, também um a um, em parada militar, pois não se podia reunir os militares, que a operação seria naquela noite. Segundo nos informara, havia uma senha que iria para o ar, pelas 23h00, na comunicação social, através dos Emissores Associados de Lisboa, com a música “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho. Se estivesse a correr tudo bem no país inteiro, às 00h00, a Renascença lançaria a contra-senha com a música “Grândola, Vila Morena”, que seria a ordem para avançar para Lisboa, dando início à operação militar. Durante a espera, fomos reunir para o quarto militar do Capitão Salgueiro Maia, onde estivemos a ver mapas de Lisboa e rever pormenores da operação e onde estivemos à espera da ordem de partida que seria dada a partir da Renascença. Foi um momento de grande frissom, pois às 00h00, não aconteceu nada, às 00h05, nada, às 00h10, nada, às 00h15 nada, o que nos levou a pensar que não havia condições para partir para a operação “Fim do Regime”. Nós estávamos entusiasmados com a oportunidade de conseguir a liberdade e a democracia em Portugal, mas naquele momento, ficámos tristes, desolados, mas às 00h20, o locutor disse “Grândola, Vila Morena, Terra da fraternidade, O povo é quem mais ordena, Dentro de ti, ó cidade” e pôs a música, e nós ficámos entusiasmados e começámos a tratar dos últimos pormenores, acabando por sair às 3h30 e chegámos à Praça do Comércio às 6h30. Quero destacar que nós eramos todos jovens, de vinte e poucos anos, o Capitão Salgueiro Maia tinha 29 anos, e foram estes jovens que arriscaram tudo naquela madrugada libertadora. (…)
Ana Isabel Felício
Entrevista na íntegra na edição impressa de 26 de abril de 2024.