“Trilho Findo” é o nome da peça de teatro que aborda com grande sensibilidade as várias faces da problemática da doença de Alzheimer, e que vai estrear na próxima sexta-feira, 30 de junho, às 21 horas, no Cine-Teatro “Ivone Silva”, em Ferreira do Zêzere. A peça, que inicia com o testemunho de um médico sobre a doença de Alzheimer, conta com texto e encenação de Manuel Diogo e fotografia de Marta Navas, sendo levada a palco pelo grupo de teatro da Sociedade Filarmónica Ferreirense. Repete a exibição a 8 de julho. Os bilhetes são adquiridos no próprio dia, nas bilheteiras do Cine-Teatro Ivone Silva.
Manuel Diogo, autor dos textos e encenador da peça “Trilho Findo” – a sua terceira produção em Ferreira do Zêzere – tem apenas 20 anos e revela uma grade maturidade na escolha dos temas que leva a cena. “Eu escrevi esta peça sobre o Alzheimer porque é um tema que sinto que é preciso ser falado, é preciso ser posto em cena. Principalmente, porque há muita população idosa abandona em Portugal, à sua mercê porque os filhos longe, na vida deles, deixam estes pais para trás. Depois, muitas vezes, quando os encontram eles já estão com uma demência como, por exemplo, a doença de Alzheimer”, explica.

O jovem encenador conta que “por trabalhar com a palavra, por decorar textos, e trabalhar com a memória”, faz-lhe muita impressão uma pessoa esquecer-se de quem é, e estar completamente perdido num vazio interno. “Essa é uma das minhas angústias, inquietações e foi por isso que aqui a coloquei em palco, a partir desta peça e destes intérpretes” conta.
“Trilho Findo” tem 9 personagens em viagem num comboio e chegam num apeadeiro, perto de Coimbra. Só que, quando saem do comboio, está ali uma parede, que não estava quando embarcaram e todos começam num grande alvoroço. “A parede é uma metáfora da mente, para se perceber o problema do que é a mente humana, de estarmos fechados dentro de nós e de não existir uma saída”, explica Manuel Diogo, com a voz embargada de emoção.
Algumas personagens estão em diferentes fases da doença de Alzheimer, sendo que o encenador teve que fazer pesquisa sobre a doença,. Já a maneira como colocou as personagens a reagir a quem está com Alzheimer surgiu de histórias que foi ouvindo ou da sua imaginação. Na peça também existe uma personagem, que representa o cuidador informal de dois doentes de Alzheimer, estatuto que ainda não é reconhecido. “Muitas vezes para eu cuidar do outro, não tenho tempo para cuidar de mim, é isso que acontece”, atesta, convidando todos a assistir a esta exibição.

Luís Lopes e Sara Ramalho são dois dos personagens desta peça. Luís Lopes, de Lisboa, mas a viver em Ferreira há 30 anos, explica que nunca fez teatro até começar a ensaiar com Manuel Diogo. “A par do teatro, que é a minha paixão e não tinha disponibilidade de fazer até agora, faço figuração para cinema. Isto ajuda-nos a sair do nosso dia a dia e a treinar o cérebro, o que é ótimo”, conta, acrescentando que nesta peça encarna a personagem do genro de uma senhora com Alzheimer. Já para Sara é uma estreia absoluta, sendo a primeira vez que vai pisar um palco perante tantas pessoas. “Vamos ver como corre. Uma coisa é ensaiar sem público, outra é atuar com público, mas o importante é manter o foco e improvisar se tiver que ser”, atesta.
- Notícia completa na edição semanal de 29 de junho