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“A frieza e o tratamento indiscriminado que estamos a dar aos nossos entes queridos quando partem deste mundo, não é deste mundo” – Jornal Cidade de Tomar
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“A frieza e o tratamento indiscriminado que estamos a dar aos nossos entes queridos quando partem deste mundo, não é deste mundo”

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“A frieza e o tratamento indiscriminado que estamos a dar aos nossos entes queridos quando partem deste mundo, não é deste mundo”

Carta aberta ao Presidente da República
Ex.o Senhor Dr. Marcelo Rebelo de Sousa

É com um nó na garganta que lhe dirijo estas palavras. É uma dor que não posso calar e cuja indignação lhe quero apresentar.

Perdi a minha mãe este fim-de-semana. Infelizmente foi vítima de uma doença oncológica que só muito tarde se manifestou e nos impediu de vencer esta batalha. Lutou e resistiu 6 meses em duras condições dada a realidade que entretanto nos afectou a todos nós.

Não lhe escrevo para relatar o que representa a perda da minha mãe, certamente saberá o que essa dor significa.

As circunstâncias que me levam a escrever-lhe obrigam-me a ir mais longe. Faço-o de forma abrangente por via das imposições com que nos deparámos na hora de tratar de todos os
pormenores relativos ao serviço fúnebre.

Como já referi a causa da morte da minha mãe não foi Covid, ainda assim foi tratada como se fosse, o que é de todo inaceitável. Mesmo apresentando um comprovativo de teste negativo com menos de 48 horas, foi tratada como se tivesse uma doença altamente contagiosa.

A nossa estupefação, da família, começou quando questionámos a agência que contratámos para o efeito, como e quem procederia ao vestir do corpo. Fomos de imediato informados que tinham instruções para a não manipulação dos corpos e que, como tal, os mesmos não seriam vestidos. A estupefação foi dando lugar à indignação com a consequente descrição do que seria a prática que estava preconizada. Os corpos não só não seriam vestidos, por não poderem ser
manipulados, como de seguida seriam literalmente enfiados dentro de um saco de plástico, eufemisticamente apelidado de sudário! Há lá acto mais digno do que este?!

Morra-se de covid ou não é-se tratado como tal, por igual. Ao menos aqui não há lugar a qualquer discriminação!! A ironia é que este gesto é só um atentado à dignidade humana que
nem na hora da morte é respeitado e homenageado como seria suposto acontecer!

Por sermos uma família que questiona, conseguimos felizmente contornar a situação e a nossa mãe acabou mesmo por ser vestida pelas pessoas que trabalham na unidade onde faleceu. Mas não conseguimos evitar que o corpo agora frio, fosse fechado naquele gélido saco de plástico, antes da urna ser selada.

Sabemos bem que vivemos tempos conturbados, com contornos difíceis de imaginar, para todos. Mas a frieza e o tratamento indiscriminado que estamos a dar aos nossos entes queridos quando partem deste mundo, não é deste mundo. É desumano, mesmo!

Agora, o foco está todo no desconfinamento, na libertação da clausura a que fomos votados. Só que nos esquecemos de que com estas regras desumanas estamos a condenar aqueles que
partem a uma espécie de prisão eterna. E fazemo-lo sem dó, nem piedade! Nunca há uma boa hora para morrer, mas partir desta vida em tempos de covid é a coisa mais desumana e fria que pode existir!

Com a nossa mãe, o mal está irremediavelmente feito, mas esperamos que ao fazer chegar a nossa voz até si, a mais alta figura do Estado, esta situação que seguramente se repetirá por muitos lugares deste país, sem que tal seja do conhecimento público, possa conhecer um fim bem mais condizente e digno para com a vida humana, sempre e agora sobretudo na hora da morte.

Certo da sua atenção, subscrevo-me com elevada consideração.
Os meus melhores cumprimentos,
João Bruno Videira
16 de Junho de 2020

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