Elsa Ribeiro Gonçalves (Reportagem)
Não é fácil para quem é jornalista da imprensa local escrever uma reportagem sobre a Festa dos Tabuleiros. Já muito foi dito, já muito foi escrito, já saiu em todas as rádios e televisões quando este jornal em papel chegar às mãos dos leitores. Os manuais de jornalismo dizem que devemos ser imparciais e equidistantes. “Mea culpa”, mas a Festa é mais forte do que nós e o coração emociona-se, como o de qualquer tomarense, em momentos como estes: o Mordomo a abrir os portões da Mata dos Sete Montes para o início do cortejo principal, a multidão a gritar “Viva a Festa”, os populares a enfeitarem a rua madrugada dentro, os gaiteiros e os elementos das bandas a darem o seu melhor, os colegas jornalistas e fotógrafos em busca do melhor ângulo, a polícia e bombeiros a acautelar a segurança de todos, os pares que levam os tabuleiros, firmes, empenhados na sua nobre missão de mostrar a Festa a quem a visita. E, nós, ali no meio, a torcer para que o Tabuleiro não caia, devido à ventania na Ponte Nova ou na Alameda Um de Março, onde ainda tiveram que ser mais fortes e corajosos. Assistir ao cortejo do lado de dentro tem essa vantagem: de vermos a festa por dentro. Levamos a carteira profissional numa mão, o coração na outra. Façamos então o nosso melhor.
O que une, afinal, todas estas pessoas? Um só nome: Tomar. No domingo, 9 de julho, milhares de pessoas assistiram ao resultado desta entrega, união e devoção, não só plasmada no Cortejo como nas ruas ornamentadas, que já podiam ser visitadas desde há alguns dias um trabalho de meses que chegou a estar ameaçado pela chuva – que caiu, com alguma intensidade – durante poucos minutos na véspera.
“Depois de mais de três horas e um percurso de cerca de 6 quilómetros e com um tabuleiro a pesar cerca de 13 quilos, o sorriso e a felicidade no rosto de quem superou a provação”, escreveu Miguel Tolda, um dos participantes do cortejo, que representa o espírito resiliente e a determinação de todos os que desfilaram perante uma multidão que – apesar do calor intenso – encheu a cidade de Tomar de cor, música e alegria naquela que é a realização da Festa dos Tabuleiros, um evento que ocorre a cada quatro anos em honra do Espírito Santo. E até o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que inicialmente cancelou sua presença, deu um ar da sua graça e acabou por comparecer no cortejo, protagonizando uma oportunidade para as afamadas selfies.
Um dos momentos altos foi a bênção dos Tabuleiros, na Praça da República, ocasião em que D. José Traquina, bispo de Santarém, destacou a importância da Festa dos Tabuleiros que considerou mesmo como “um sinal de paz e alegria para o mundo”. Durante a homilia da celebração, o Bispo realçou os desafios enfrentados desde a última festa em 2019, como a pandemia e o conflito na Ucrânia, e enfatizou a necessidade de um desenvolvimento ético, económico e político que promova o respeito mútuo, a justiça e a paz global. “Hoje, esta cidade de Tomar está repleta de pessoas que para aqui convergiram por causa da Festa dos Tabuleiros que exprime arte, simplicidade e beleza”, referiu.
– Reportagem completa na próxima edição semanal
Foto da Ponte Velha: Fátima Rico
Fotos Elsa Ribeiro Gonçalves e José Ribeiro