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Celestino Marques: um dos últimos oleiros tradicionais da nossa região

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Ana Isabel Felício
Comecei a trabalhar no Jornal Cidade de Tomar em 1999. Já lá vão uns anitos. Depois de sair da Universidade e de todas as dúvidas e dificuldades que surgem, foi-se construindo um caminho de experiência, com muitas situações, muitas pessoas, muitas aventuras e, claro, muito trabalho. Ao fim de todos estes anos, apesar de todos os percalços que a vida nos vai dando, cá estou, todos os dias a fazer o meu trabalho o melhor que sei, aprendendo com os que me rodeiam e também ensinando alguma coisa.

No âmbito do projeto Salvaguarda e Revitalização das Artes Tradicionais da Festa dos Tabuleiros, um dos vencedores da 4.ª edição do Programa EDP Tradições, decorreram, no edifício da Moagem A Portuguesa, várias ações de formação com o objetivo de aquisição de técnicas e conhecimentos associados ao saber-fazer festivo, nomeadamente na confeção de flores em papel, latoaria, cestaria, olaria, rodilhas e oficinas criativas. Estando algumas destas artes em “vias de extinção”, este programa foi, e é, deveras importante para a revitalização das mesmas e para o seu ressurgimento. Esta semana, o “Cidade de Tomar” fala acerca de uma destas artes – a olaria – concretizada pelo seu mestre, Celestino Marques, um dos últimos oleiros tradicionais desta região.

– Como é que começou esta atividade ligada ao barro?

O barro está no meu sangue, o meu avô estava ligado ao barro e o meu pai também. Quando eu era criança, nas férias, não havia muito tempo para se tomar conta das crianças porque os adultos trabalhavam na agricultura. Na data, havia na Charneca da Peralva, uma olaria do José Caetano das Neves e como a minha mãe tinha medo que eu caísse nalgum poço quando andava atrás dos pássaros, pediu ao José das Neves para eu ir para a olaria. Na data, tinha para aí uns dez anos e lá fui para a olaria limpar as furnas, mas, entretanto, comecei a apaixonar-me pelo barro, já vinha do sangue o amor à arte…O José das Neves começou a ver que eu tinha gosto pela olaria e como não tinha mais ninguém, começou a ensinar-me. Lembro-me que costumava entrar às 8h00, mas hora para sair, já era mais complicado, pois havia muito serviço. Eu comecei a aprender numa roda mais antiga, que não estava afinada, assim é que se aprendia. O José das Neves chegou a ter sete empregados, quatro rodistas e três serventes. Já era muito avançado, na data, já tinha uma estufa a gás para secar a loiça no inverno.

– E o Celestino aprendeu esta arte com facilidade?

É uma arte dura, trabalhosa. Na data havia muito serviço porque toda a gente precisava de um tacho, de um alguidar, de uma talha de azeite, de um cântaro, tudo se utilizava. Na data, faziam-se centenas, milhares de cântaros para clientes do Alentejo, em especial na altura das ceifas. Os cântaros e cantarinhas (infusas) são das peças que mais gosto de fazer, mas são falsas, são as mais difíceis de aprender. A olaria é uma arte de paciência, amor e concentração. Quando estamos enervados não vale a pena ir para a roda. A arte de moldar o barro é um dom. Posso dizer que, nesta arte, até sermos vivos, não somos mestres, há sempre coisas a aprender.

– Certamente que há técnicas especiais e segredos nesta arte?

Sim, há, por exemplo, cozer as peças num formo a lenha tem a sua ciência. Vamos aperfeiçoando as técnicas com a experiência de vida. Eu consigo, através da visão, saber quantas horas uma peça demora a cozer. Os meus fornos são antigos, com porta com tijolo, e o que costumo fazer é meter a mão no interior e assim sei a temperatura que está e vejo se é necessário pôr mais lenha ou não. Para cozer barro qualquer lenha serve, mas para os trabalhos com vidrado tem de ser a lenha de pinho. A olaria tradicional é bonita, mas falsa e os vidrados são o mais difícil de tudo, requerem muita atenção, é até preciso um forno próprio. (…)

Ana Isabel Felício/José António

Uma entrevista para ler na íntegra na edição impressa de 14 de abril.

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