Tudo começou quando, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro, a família de Gabriella Santos decidiu juntar alguns bens para enviar para o país em guerra, no entanto, na data, o posto de recolha mais perto era em Leiria. Por isso, Gabriella Santos lembrou-se do vizinho Yuriy Kulyk, ucraniano, e questionou-o se seria viável criar um posto de recolha de bens em Tomar, o qual concordou e disponibilizou o espaço da sua loja. Também, por ter família na Ucrânia, seria mais fácil saber o que realmente precisavam e como fazer as coisas chegarem até lá.
Assim, teve início o grupo de voluntariado, cujos rostos do mesmo são a Gabriella Santos, a Elsa Duarte Curado e a Marisa Ribeiro Kulyk, grupo que divulgou na Facebook a lista dos bens necessários para enviar para a Ucrânia e, logo a partir daí, começaram a surgir outros pontos de recolha que transportavam os bens para aquele primeiro espaço, a adesão foi grande e o espaço começou a ficar pequenos para tantos bens.
Nesse momento, tendo conhecimento do que se estava a passar, a presidente da Câmara de Tomar, Anabela Freitas, disponibilizou um espaço maior no mercado municipal, onde agora funciona o ponto de recolha, assim como, segundo Gabriella Santos, “disponibilizou ajuda na questão do alojamento e transporte para as pessoas que iam chegando”.
Sobre a adesão dos tomarenses a esta iniciativa, Gabriella Santos considera que “as pessoas de Tomar foram muito solidárias, são muitas as entidades que nos estão a ajudar, muitas pessoas particulares que têm dado o que conseguem e têm-se voluntariado pós-laboralmente para ajudar a empacotar, separar e embalar os bens. Nunca pensei que íamos conseguir tantas coisas”, afirma.
Quanto aos bens que ainda são necessários, Gabriella Santos refere que, de momento, não é necessária mais roupa, ou seja, já há muita e para ficar retida no armazém não vale a pena. O que é necessário de momento são produtos higiénicos para bebés, pensos higiénicos, medicamentos, pomadas, comida pronta a comer também para bebés e tudo o que for pronto a comer, exemplo dos enlatados, de preferência não em frascos de vidro, pois podem partir-se.
Quanto aos bens para as famílias que vão chegando a Tomar, assim que chegam são direcionadas para o ponto de recolha e aí é dado um cabaz com produtos que necessitem. Posteriormente, o grupo avalia a casa onde as pessoas estão instaladas e vê-se o que falta (camas, eletrodomésticos…). Se for necessário algum mobiliário, através de transporte da câmara, o mesmo é encaminhado para a casa onde as pessoas estão.
Sobre o estado de espírito das famílias que já chegaram a Tomar, Gabriella Santos diz que “vêm muito perturbadas por deixar os maridos e até filhos, estão muito tristes, mas sentem-se abençoadas pelo acolhimento que tiveram e algumas crianças até já estão integradas nas escolas”.
Sendo um grupo voluntário, o mesmo não exige nada a ninguém, o que apelam é que “quem puder ajudar o faça de coração aberto, nós agradecemos. Quem quiser juntar-se a nós, voluntariamente, no ponto de recolha (mercado municipal), pode dirigir-se até lá aos sábados à tarde e aos domingos, entre as 10h00 e as 17h00. Quero aproveitar para agradecer a todas as pessoas que se voluntariaram e nos ajudaram até altas horas da noite, às pessoas que deram bens, às entidades que colaboraram connosco e também à presidente da câmara e à câmara que disponibilizou tanta ajuda”.